PAISAGEM I Um dia de sol , um dia de chuva com noite longas cheias de vozes e luzes piscando no teto do quarto, luzes vindo da rua, de um poste quebrado, de carros passando, de gente em um bar. Zumbe zoa um mosquito infeliz foge dos tapas de mãos que se quebram, as pernas coçam, os braços ardem um vermelhidão no escuro uma escuridão que se arrasta até o amanhã. Meus amigos me chamam, dizem que está tudo bem, que a coisa vai melhor , que o pior já passou, que é difícil esquecer, mas ainda é possível, ainda estamos aqui, meus amigos, é o que importa. Eu tenho todos os dedos da mão direita, perdi tanta coisa, deixei de fazer outras mais, sai de casa muito cedo, nem lembrei onde andei, havia um senhor muito velho, perto de uma praça ali mesmo, quando foi mesmo, um negócio que sumiu. Agora é sair da cama, agora é pisar firme esse chão, agora é quando tudo acontece, agora é o fim da estação, agora minha boca secou e o vento me joga na cara o vento, e eu vejo as pessoas com pressa...