Uso das músicas/sons nos ensaios

Músicas e sons sempre estiveram presentes na carreira de Hugo Rodas.  Como músico, pianista, compositor, Hugo levou isso para seus processos criativos e para seus treinamentos.

Em Huguianas não seria diferente.

Em nossos encontros temos muita presença não de músicas, mas de sonoriades. O som engloba músicas e outras manifestações audíveis.

Na maioria de nossas experiências com sons prevacelem alguns hábitos. Entre eles estão o de mais ouvir sons pré-gravados. E em grande parte dos casos, canções.

Em nossos encontros procuramos outros modos de nos conectar a sons. Primeiro, os sons são produzidos na interação entre a condução dos ensaios ( Café), os intérpretes, e o compositor em sala de ensaios ( Mota).  Este fato é muito importante. Assim como buscamos desautomatizar nossas percepções para construir movimentos, do mesmo modo buscamos desautomatizar nossas respostas a estímulos sonoros. 

Em todo caso, compreendemos que há uma íntima conexão entre som e movimento, em sonoridades e ações físicas. O fato de buscarmos uma autonomia criativa do intéprete nos leva a considerar este intérprete em suas múltiplas dimensões, não apenas naquilo que se vê. 

Por exemplo. os nossos encontros são divididos em momentos bem característicos: 

1- aquecimento inicial

2- exercícios coletivos

3- exercícios individuais

4- roda final

No aquecimento, podemos inserir sons para dinamizar os movimentos e para relaxar. Minha estratégia nesses momentos é produzir uma ideia, um tema, um gesto musical, uma conexão entre aquilo é está acontecendo em cena e minha mão no braço da guitarra.  O fato de escolher um gesto, um tema, funciona como a mediação entre o movimento em cena e uma padrão audível. 

Para esse padrão audível convergem elementos tanto sonoros quanto performativos. Em fato, tento traduzir, interpretar sonoramente eventos não sonoros. Pois tanto o que se ouve quanto o que se faz tem parâmetros comuns, como andamento(acelerar, desacelerar), intensidade/volume (forte/fraco). 

Com isso, eu me desloco de seguir uma trama previamente existente, pois estou focado em formar de uma série de eventos que acontecem em minha frente.  

Nisso há o choque com as práticas musicais, principalemente canções como as ouvimos. EM grande parte desse repertório há o que se chama "harmonia funcional"ou um conjunto prévio de encadeamento de acordes, gerando expectativas de realização e fruição. Assim, soa um acorde X, considerado um centro de atração. Depois há outros acordes que se relacionam com esse centro de atração ou tonicidade. De tanto ouvirmos esse encadeamento funcional criamos expectativas que delimitam nossa experiência auditiva. No mesmo caso não trabalho tanto com harmonia funcional. Alterno possibilidades de construção de sonoridades a partir da situação. Algumas vezes preciso mais de uma ênfase cordal rítmica, com power chords. Outras vezes, me valho de um estilema rítmico, algo que pareça um samba, mas não é um samba.  Outras vezes sustento um nota apenas. Isso varia de acordo com o momento do ensaio e com a interação com a cena.

Ou seja, o papel do compositor em sala de ensaios não é o de acompanhar os intérpretes, de fazer um fundinho para suas ações. Não é reproduzir  os planos entre frente e fundo que normalmente são efetivados em nossos contextos sociais.  

No caso de passarmos de treinamentos para apresentação de cenas, daí temos uma estabilidade na produção de sons. Mas durante os treinamentos do mesmo modo que há criatividade na mudança, na variação, no enfrentamento de situações cômodas para os intérpretes, da mesma maneira na produção e na recepção de sons temos essa criatividade em ação. 


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