Aula sonoridades
A aula de hoje pode ser chamada de "abertura da caixa preta". No lugar de ficar compondo junto com os movimentos, resolvi demonstrar como é parte de meu método de trabalho. Comecei falando de onde veio essa possibilidade do"Compositor na sala de ensaios". Em grande parte das aulas o uso de sons é realizado a partir de arquivos fechados de sons pré-gravados: coloca-se em uma aparelho reprodutor uma canção ou uma música instrumental que foi produzida e registrada em outro momento que o da aula/ensaio. Isso reforça o hábito que temos de consumir música com o uso do celular, televisão e outros aparelhos. Com isso, com esse distanciamento, o uso do som é o de um "fundinho", de algo para acompanhar o que será realizado. Mas como esse arquivo já está fechado, com suas decisões criativas quanto pulso, duração, timbre, forma, etc, o que se pode fazer é tentar mimetizar o que está ali ou ignorar.
Com o trabalho do Hugo, de comecei a estar presente nos ensaios. todos os ensaios. E como fizemos musicais ou obras com música eu era a fonte sonora, realizando inicialmente o acompanhamento das canções, e depois intervenções outras no momentos não cantados.
A partir dos Teacs a proposta foi diferente: elaborar sonoridades dentro das improvisações coletivas.
Minha coisa que penso: um tema, uma sucessão de notas, uma pequena frase. Ou seja, como qualquer criador em performance, estabeleço uma referência.
Nosso primeiro exercício de hoje foi explorar essa ideia. Produzi uma ideia simples que se encaixou em um pulso quaternário. As notas que eu tocava acentuavam os tempos 1 e 3. O primeiro exercício dos intérpretes foi explorar esse pulso. Diminui as luzes do teatro e cada um respondeu com pequenas frases de movimentos ao pulso. O pulso era lento, 50 bpm. Havia possibilidades de se estabelecer um arco temporal de 4 ou outro tempos para mudança da ação.
No segundo exercício incorporamos o trabalho com o pulso lento ao de alturas: comecei a trabalhar com um escala de sons mais graves relacionados a movimentos da cintura pra baixo, de sons mais agudos da cintura para cima.
No terceiro exercício, ainda com pulso lento, trabalhamos com uma marcação emocional e dividimos todos em dois grupos - 6 contra 6. Um grupo com a vontade de atacar e outro o instinto de se proteger. AInda me vali da escala de sons graves até os sons mais agudos e depois voltando para o graves. Esse escala foi respondida pelos movimentos de se levantar, ir em direção ao outro grupo, parar em um linha medial imaginária, e retornar para a posição inicial. Aqui treinamos também a percepção de cadências: perceber movimentos de clímax e de fim de sequência.
Nesse exercício saímos de improvisações individuais para improvisações coletivas. O fator de aproximação não estava apenas em olhares laterais e sim na conservação e partilha do pulso.
Próxima etapa: diagonais. O exercício agora é o de interagir com uma frase que circundava uma nota, uma frase musical em looping, em torno de um centro tonal. Isso lembra a imagem de um eixo de referência, no caso, a coluna. Do mesmo modo que eu me desloco para frente e para trás em torno desse centro tonal, no exercício, brincando com os planos, que foram tão estudados nos encontros anteriores, os intérpretes brincavam com o desequíbrio, com as possibilidades de movimento a partir do eixo deslocado.
Começamos com diagonais individuais, depois em duplas, e depois em trios. Nas duplas duplicamos os exercícios: primeiro cada dupla fazia suas improvisações de imediato. Depois, eram dados cinco minutos para combinar movimentos e depois fazer as ações. Com os trios também tivemos essa duplicação, mas houve a preocupação com girar os três elementos do trio, para que alguém não ficasse sempre no centro.
Finalizando, fizemos improvisações com discussão prévia das ações em dois grupos de 6, bricando com paralelismos a partir dos materiais produzidos nos trios.
Algo que chamou a atenção foi pensar a composição sonora, a estética da criação aural como um movimento ondulatório recorrente, como algo que gira em seu próprio eixo mas avança em novos giros, formando uma circunferência até voltar para seu momento inicial. Nessa arquiviagem, o princípio cosmobiológico da energia e do movimento são explorados e expressos.
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